sábado, 1 de dezembro de 2007

O amor é parecido com um show de rock

Alguém já disse que o amor é muito parecido com um show de rock – provavelmente foi o escritor inglês Nick Hornby. Acho que é por aí mesmo. Tanto no romance como nos concertos, o começo é meio morno, com as pessoas se conhecendo, uma ou outra cerveja rolando, muita expectativa, fumaça e pouco fogo. Mas logo que os primeiros riffs empolgam o público, começa o empurra-empurra e o amassa-amassa. O clima esquenta – principalmente se a casa não tiver ar-condicionado -, as canções mais conhecidas arrebatam de vez a platéia e, quando você menos espera, está entregue ao ritmo. Tudo o que você deseja é que o mundo acabe ali mesmo enquanto a bateria ataca outra vez. A vida passa a ser pular, gritar, cantar, beijar e roubar uns goles da cerveja do camarada embriagado que acabou de se desmanchar no chão. A felicidade, enfim.

Mas aí o corpo pede arrego, as luzes se acendem e ninguém mais volta para o bis. Hora de ir. E tudo cai novamente na rotina do dia-a-dia, na noite vazia de emoção – e sem trilha-sonora animada.

É, o amor é muito parecido com as variações de humor de um show de rock: calmo, rápido, lento, gostoso, apaixonante, repetitivo, bis e fim.

Para confirmar ainda mais a tese, temos os megaeventos das bandas que resolvem acabar com a aposentadoria e promovem uma reunião dos antigos integrantes.

O editor da Ilustrada, caderno de cultura da “Folha de S.Paulo”, Marcos Augusto Gonçalves, escreveu um artigo bacaninha (29/11) comentando as voltas de grupos como Led Zeppelin, Police, Who e Sex Pistols.



Para o articulista, “retornar ao passado em show de velhas bandas pode ser uma experiência deprimente ou divertida”.

Exatamente como os tais revivals que os ex-amantes às vezes teimam em fabricar.

A história é clássica. Separados por anos e anos, um belo dia… Ou melhor, numa bela noite, Fulana e Sicrana se reencontram numa festinha, bebem um pouco demais e resolvem fazer um último show, tocar algumas velhas canções apenas para matar a saudade de remotos tempos.

Aí realmente o amor se parece com um show de rock do Police ou do Led Zeppelin.

Ou você se deixa embriagar pelo passado e leva na boa, sabendo que tudo ali não passa de uma curiosa diversão; ou se deprime demais, não compreendendo bem por que continua repetindo os mesmos refrões e estacionado no tempo.

Às vezes, um revival desses é apenas uma maneira de a gente enganar um pouco o presente e deixar de encarar as novidades que nos provocam e assolam.

As histórias sobre esses reencontros são inúmeras e várias – assim como os relatos das bandas que voltam. Há aqueles que fazem o repeteco por pura sacanagem; outros pelo dinheiro; e muitos por tesão mesmo.

Claro que existe a turma que nem pensa em se jogar numa experiência dessas e vai passar longe do Maracanã dia 8 de dezembro, pois prefere ficar apenas com a lembrança daqueles antigos vinis.

De qualquer maneira, tudo é diversão.

O amor é muito parecido com um concerto de rock. Então deixemos as pedras rolarem.

Nenhum comentário: